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São Paulo

Ex-garçom (e CEO) do Fogo de Chão quer popularizar o galeto no Brasil

Durante a pandemia, o isolamento social imposto pelas autoridades sanitárias fez com que as pessoas, em sua vida privada, ficassem mais introspectivas e concentradas, revendo conceitos, projetos e planos. No mercado não foi diferente, como mostra o Di Paolo.

Apesar de ter sido fundada em 1987, o restaurante não sabia o que era sair do Sul do Brasil. Em São Paulo, por exemplo, o Di Paolo chegou apenas em 2017 com a missão de instalar a primeira galeteria em terras sudestinas.

“Um dos grandes desafios foi apresentar a verdadeira gastronomia da Serra Gaúcha aos paulistanos. O galeto, nosso carro-chefe por exemplo, era, até então, pouco conhecido na capital paulista”, diz Jandir Dalberto, sócio do Di Paolo, desde 2017.

Então, a ordem foi mudar tudo para agradar não só o paladar dos paulistanos, mas o gosto pela cultura do Sul.

Por isso, até a comunicação precisou ser alterada. Antes, o logo em letras verdes e um ambiente com fortes cores de vermelho, branco e preto fazia o paulistano pensar: é cantina ou restaurante japonês? Nenhum dos dois. Mas não parecia nada claro para os consumidores, especialmente aqueles que passavam em frente aos restaurantes.

Para deixar essa diferença bem à mostra, a Di Paolo aproveitou o isolamento social para realizar um trabalho de recolocação de marca. Os ares de cantina deram lugar a uma decoração mais moderna (mas fiel ao sul) e as fortes cores nipônicas a tons mais terrosos, deixando o ambiente mais acolhedor.

Além do trabalho de identidade, a rede acabou indo na contramão do fluxo de mercado e conseguiu expandir em 2020. Além do investimento no delivery (R$39,90 o executivo para uma pessoa, preço sedutor para tempos de crise comparado aos R$ 88 cobrados no rodízio), a Di Paolo abriu uma unidade dentro do shopping Lar Center, ao custo de R$ 2,8 milhões.

Com a inauguração da caçula, a rede atualmente conta com quinze lojas no Brasil, sendo onze no Rio Grande do Sul, uma em Santa Catarina e três em São Paulo. A meta é seguir caminho parecido ao feito pelo Fogo de Chão, que se popularizou no Brasil – ao ponto de agradar até mesmo os americanos.

História de garçom

Dalberto não é um marinheiro de primeira viagem e sua carreira flerta com a dramaturgia.

Numa sinopse simples: saiu do interior do Paraná aos vinte anos, mais precisamente de Santo Antônio do Sudoeste, trabalhou como ajudante de copa na churrascaria Porcão no Rio de Janeiro, se mudou para São Paulo, se tornou garçom da Fogo de Chão.

Numa escalada vertiginosa de promoções, saiu da rede de churrascarias apenas 2016 como presidente de operações do país, após a empresa ser vendida para um grupo americano. Foram 27 anos de companhia.

Foi então que Dalberto precisou cantar de galo e foi atrás de apresentar o galeto para o Brasil, ao se associar com a Di Paolo.

O galeto, para quem não sabe, é um frango com pouco mais de 20 dias de vida e que pesa pouco menos de 1kg (algo entre 500 a 700gr gramas). Ele é abatido “al primo canto” (logo no primeiro canto, numa tradução livre) e temperado com sal, sálvia, vinho, alho, pimenta, entre outras especiarias. A iguaria é muito consumida nas cidades do Sul do país.

Porém, no maior mercado consumidor do país, o galeto competia, além da gama gigantesca de restaurantes, com os tradicionais frangos de padaria. Antes de prosseguir, e para evitar outra rebelião separatista, é importante frisar que frango e galeto, embora sinônimos, são iguarias distintas.

Pelo menos até o fim da pandemia, a expansão imaginada anteriormente está paralisada.

Mas o CNN Business conversou com Jandir Dalberto, sócio do Di Paolo, para saber o presente e o futuro da rede de restaurantes.

Como a rede passou pela pandemia?

Nós não paramos com a pandemia. Pelo contrário. Abrimos em 2020, durante a pandemia, a unidade Zona Norte e começamos nosso estudo de brand para reformulação de todas as lojas. Sentimos a necessidade de estar ainda mais preparados para quando tudo voltar ao normal e começamos a implantar as mudanças agora. Também criamos o serviço de delivery, que antes não existia e que hoje é um sucesso e disponibilizamos no menu a opção à la carte para os que não desejarem consumir nossa sequência completa.

Como foi esse processo de reformulação da marca?

Para a mudança de branding contratamos um escritório de design que realizou um estudo criterioso que fomentou a base para reformulações. Todos os upgrades na identidade foram pensados para afirmar e valorizar as raízes sulistas da empresa, mas com uma estética mais leve, atual e moderna.

As cores da decoração e logo, que antes eram facilmente associadas à bandeira e restaurantes italianos, foram modificados para aproximar a marca à gastronomia da Serra Gaúcha.

Mas o que mudou?

O vermelho e verde mais forte, deram lugar à tons mais harmônicos. Um ramo de sálvia, conhecido pelas suas propriedades benéficas para a saúde, foi adicionado ao nome no logo por ser o tempero essencial no preparo do galeto.

Os materiais escolhidos para o novo projeto arquitetônico destacam a rusticidade natural da Serra Gaúcha em um ambiente familiar e aconchegante, com pedras, madeira, vidro, artesanato em ferro e fibras naturais, como vime e junco.

Quais desafios que tiveram na hora da expansão?

Nós chegamos em São Paulo em setembro de 2017, ocasião em que abrimos a primeira loja. Um dos grandes desafios foi apresentar a verdadeira gastronomia da Serra Gaúcha aos paulistanos. O galeto, nosso carro-chefe por exemplo, era pouco conhecido na capital paulista.

Recentemente vocês abriram mais um ponto no Lar Center. Há planos de expansão?

O plano de expansão está parado nesse momento. Nenhuma nova unidade tem previsão de ser aberta em 2021. Vamos aguardar essa situação atual se normalizar para realizar mais aberturas.

Autor: Juliana Faddul, colaboração para o CNN Brasil Business

Fonte: CNN Brasil Business